Quantas Vezes Jesus Precisa Ser Crucificado Para Provar que Te Ama?
- Henrique Saraceni
- 18 de abr.
- 1 min de leitura
Há sempre um corpo sendo crucificado em alguma cruz invisível.
Não no alto de uma colina, diante de multidões com lanças e coroas de espinhos — mas nas esquinas da vida, nos bastidores da confiança, no silêncio das relações que fingem reciprocidade.
O pão é partido.
O vinho é oferecido.
Os pés são lavados com cuidado.
E ainda assim... o beijo da traição chega pontualmente, como se fizesse parte do ritual.
Diz-se “obrigado” com os dentes, mas os olhos carregam o cálculo.
Aceita-se a ajuda com as mãos, mas o coração já planeja o abandono.
Há quem dê a vida em gestos simples: uma escuta atenta, um ombro firme, uma palavra na hora certa.
Mas o mundo é viciado em escárnio.
Confunde pureza com fraqueza.
Faz piada do cordeiro e aplaude o lobo.
Quem ama demais, arde em fogo estranho.
Quem se entrega inteiro, vira terra fértil para os parasitas. E enquanto alguns se ajoelham fingindo reverência, já estão afiando os pregos.
Quantas vezes o sangue precisa pingar do madeiro para que se entenda o amor?
Quantas vezes o silêncio precisa falar mais alto que as justificativas?
Quantas vezes o injusto precisa morrer no lugar do ingrato?
A história se repete como um loop cósmico de ingratidão.

O altar vira cadafalso.
O salvador vira escândalo.
E o amor — o amor vira chacota.
Mas ainda assim…
Mesmo sangrando, mesmo só, mesmo pregado por mãos que um dia segurou com ternura…
Ele olha para o alto e diz:
“Pai, perdoa.”
Porque amar não é fazer sentido.
É fazer milagre.
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