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Suba a Montanha Para Ver a Vista, Não Ser Visto

Atualizado: há 5 dias

Vivemos numa era em que a vaidade se disfarça de virtude. Um tempo em que até as boas ações são feitas com o foco na plateia, não no propósito.


Ir à igreja virou um evento de networking. Orar, um conteúdo para o feed. A fé, uma narrativa bem editada com trilha sonora emocional e legenda motivacional.


E não, não estou dizendo que é errado postar momentos. Está tudo certo em compartilhar uma experiência genuína. Mas o problema é a intenção.


O problema é subir a montanha não pela vista, mas para ser visto.


Essa é a diferença brutal entre espiritualidade e vaidade, entre caridade e marketing, entre humildade e autopromoção.


Em Eclesiastes, Salomão já alertava:

“Vaidade de vaidades, tudo é vaidade.” - Eclesiastes 1:2

Ele enxergou, milhares de anos atrás, que o ser humano tem uma tendência brutal de buscar o próprio brilho, mesmo que precise apagar o dos outros. De fazer o bem, não por compaixão, mas para colher aplausos.


E isso me dói. Me incomoda. Me revolta. Porque vejo gente usando o nome de Jesus para fazer palco. Gente que descobre em Deus uma oportunidade de autopromoção. Gente que ora alto para ser ouvido, posta versículos para parecer iluminado, mas não pratica um grama do que prega.


E se você é esse tipo de pessoa, se doeu, é porque serviu. Está na hora de descer da montanha. Ou melhor: subir, mas pelos motivos certos.


Ilustração em preto e branco de uma figura solitária no topo de uma montanha, cercada por nuvens abstratas e linhas onduladas que evocam contemplação. A cena transmite uma atmosfera introspectiva e simbólica, representando a jornada interior em busca de sentido, não de aprovação externa.

Vamos falar dos “Legendários”? O movimento é bonito. A proposta é interessante. Mas também é o retrato de uma geração que usa a espiritualidade para esconder maldade. Homens que pregam sobre ser forte, sobre ser homem de verdade, mas tratam as mulheres como inferiores, os pobres como peso, e os diferentes como ameaça. Onde está Jesus nisso? Onde está a compaixão? Onde está o verdadeiro espírito do Evangelho?


Não se engane. A vaidade se veste de performance. Às vezes está disfarçada de liderança. Às vezes se parece com espiritualidade. Mas no fundo, é o mesmo veneno: a necessidade de ser visto, de ser reconhecido, de ser aplaudido. A necessidade de alimentar o ego – esse monstro que nunca se sacia.


E o pior é que isso não se limita à fé. Está na atividade física também. Tem gente que treina por saúde, e tem gente que treina por validação. O espelho virou altar. O shape virou ídolo. E o like virou oração respondida.


Não é errado cuidar do corpo. Pelo contrário. É honra ao templo. Mas quando o treino é motivado pela comparação, pela inveja ou pela insegurança, não há saúde, só escravidão disfarçada de disciplina.

E já que falamos de insegurança, vamos ser sinceros: a maioria dos procedimentos estéticos não é sobre autoestima, é sobre esconder o medo de não ser aceito. É sobre construir uma máscara para tapar o vazio. E o mais cruel: as mesmas pessoas que buscam uma aparência perfeita são as que mais criticam a dos outros. A vaidade é assim – cruel, hipócrita, cega.


Jesus subiu o monte para orar.

Não para aparecer.


Quando curava, pedia silêncio.

Quando falava, era para ensinar.

Quando se exaltava, era em favor do outro.


A cruz foi o maior ato de humildade da história, e mesmo assim, tem gente usando a cruz como palco.


E você, está subindo a montanha por quê?

Para ver a vista?

Ou para ser visto?


Cuidado. A soberba precede a queda. E o tombo, meu amigo e minha amiga, pode ser bem mais alto que a montanha que você escalou só para posar pra foto.


A vaidade é um ladrão silencioso.

Rouba o propósito, a paz e a essência.

E pior: te faz achar que está no caminho certo, quando na verdade está rodando em círculos no deserto da superficialidade.


Talvez seja hora de silenciar.

De subir sem câmera.

De viver sem plateia.

De fazer o certo quando ninguém está vendo.

Porque ali, no invisível, mora o verdadeiro poder.


Como escreveu Marco Aurélio, em suas Meditações:

“A melhor vingança é ser diferente daquilo que causou o mal.”

Ser diferente é não repetir o ciclo da vaidade.

É subir a montanha para ver a vista. E não para ser visto.

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